06 janeiro, 2012

Uma pequena aprendiz em Cianobactérias ...

Como futura Técnica de Saúde Ambiental considero que é bom aprender com os mais experientes. Foi com muito orgulho e satisfação que usufruí da sabedoria da Técnica de Saúde Ambiental Eduarda Gonçalves, do Centro de Saúde de Alcoutim sobre a temática das cianobactérias. (Figura 1)

Figura 1 – Lagoa dos Patos cheia de Cianobactérias

As cianobactérias, também conhecidas por algas azuis ou algas cianofíceas, não são todavia consideradas como algas ou bactérias comuns. Estas, são microorganismos com características celulares procariontes (bactérias sem membrana nuclear), contudo com um sistema fotossintetizante semelhante ao das algas (vegetais eucariontes).
As cianobactérias são microrganismos autotróficos e a fotossíntese é o principal meio de obtenção de energia e manutenção metabólica. Estas, requerem somente água, dióxido de carbono, substâncias inorgânicas e luz para viver.
Podem viver em diversos ambientes e em condições extremas, como em águas de fontes termais, lagos antárcticos, rios, estuários ou mares e outras resistem a alta salinidade e até a períodos de seca. (Figura 2) Algumas formas são terrestres, vivem sobre rochas, solo húmido, cascas de árvores, paredes, telhados ou vidros, podendo ser importantes fixadoras do nitrogénio atmosférico, essenciais para algumas plantas.

Figura 2 – Lagoa com Cianobactérias (Bloom)

Podem produzir gosto e odor desagradável na água e desequilibrar os ecossistemas aquáticos. Algumas cianobactérias são capazes de libertar toxinas, neurotóxicas ou hepatotoxinas, que não podem ser retiradas pelos sistemas de tratamento de água tradicionais e nem pela fervura.
Inicialmente, as toxinas eram uma defesa contra devoradores de algas, porém com a proliferação das cianobactérias nas fontes da água potável das cidades passaram a ser uma grande preocupação para o tratamento de água.
As cianobactérias no ambiente podem ser encontradas na forma unicelular como os géneros Synechococcus e Aphanothece ou em colónias de seres unicelulares como Microcystis, Gomphospheria, Merispmopedium ou em células organizadas em forma de filamentos, como Oscillatoria, Planktothrix, Anabaena, Cylindrospermopsis, Nostoc. A reprodução das cianobactérias não coloniais é assexuada, as formas filamentosas podem reproduzir-se assexuadamente e algumas espécies de colónias filamentosas são capazes de produzir esporos resistentes (acinetos), que ao se destacarem geram novas colónias filamentosas.


Risco para a Saúde Pública
As cianobactérias quando se apresentam na fase de fluorescência, podem constituir um risco grave para a saúde pública. Algumas cianobactérias libertam toxinas neurotóxicas ou hepatotoxinas que podem prejudicar a saúde pública, sendo que, as neurotoxinas podem causar a morte por paralisia dos músculos e consequente paragem respiratória e as hepatotoxinas actuam ao nível do fígado, destruindo a sua estrutura interna, levando à morte por hemorragia.
Porém, o contacto com as cianobactérias através de inalação, ingestão da água com fluorescência ou contacto directo pode causar:


Inalação de cianobactérias
Provoca sintomas do tipo alérgico semelhantes à febre dos fenos como rinite, conjuntivite e dispneia ou bronquite aguda, pleurite e edema pulmonar agudo.





Ingestão de água com fluorescência
Provoca intoxicações agudas ou crónicas, dependendo do tempo de exposição e da dose de toxina ingerida. As intoxicações agudas provocam gastroenterites com diarreia, náuseas, vómitos, cólicas abdominais e epigástricas, febre, hepatite com anorexia, astenia, vómitos e hepatomegália. As intoxicações crónicas podem provocar alterações hepáticas crónicas e contribuir para o desenvolvimento de tumores.


Contacto directo com cianobactérias
Provoca sintomas como vermelhidão da pele, irritação ocular, conjuntivite, urticária, obstrução nasal, asma, lesões do tipo eritematoso papulovesicular podendo provocar queimaduras na pele.

Recomendações:
Evite nadar, tomar banho, praticar desportos aquáticos em águas que apresentam as seguintes características:
            - Aspecto esverdeado em geral ou apresentando manchas verdes superficiais;
            - Espumas densas nas margens;
            - Presença de animais mortos;
Opte por água de origem controlada na lavagem dos alimentos e na sua ingestão.


Material necessário para a colheita de amostras


Colheita da amostra de Cianobactérias
Para ser efectuada a colheita da amostra de cianobactérias, deverá ser:
- Realizada uma inspecção prévia ao local para registar as condições ambientais (se possível do dia anterior) e em especial a direcção e velocidade dos ventos (Figura 3);
- Devem-se estabelecer as áreas que mais provavelmente são afectadas pela presença de cianobactérias, ou seja as enseadas nas margens viradas contra o vento;
- Determinar se o fundo do sedimento é visível a 30 centímetros de profundidade ao longo da margem;
- Verificar se a cor da água apresenta tonalidade esverdeada ou azul-esverdeada;
- Verificar se é possível reconhecer a presença de uma fluorescência de cianobactérias pela observação de uma faixa esverdeada ou de flocos dispersos de algas verdes à superfície da água, junto à margem;
- Determinar se a presença de cianobactérias se estende por uma área grande de superfície da água,
- Verificar se ocorreu o desenvolvimento anterior de uma fluorescência, pela observação de deposição de uma camada seca de cor azul, rosa ou verde nas margens da albufeira;
- Verificar se há animais mortos (peixes, aves, entre outros) no interior ou ao redor da massa de água.

Figura 3 - Direcções do vento


Sistemas de Abastecimento de Água
Nos sistemas de abastecimento de água para consumo humano, devem-se realizar duas colheitas, uma de água bruta e outra de água tratada. A colheita de amostra de água bruta é feita junto à torre de captação e a de água tratada é colhida à saída da Estação de Tratamento de Água (ETA).

Água Bruta
Deve-se recolher uma amostra de água bruta junto ao ponto de captação. Essa amostra deverá ser uma amostra composta, ou seja, uma colheita de água em várias profundidades, por exemplo, uma à superfície (50 centímetros de profundidade), uma a 1,5 metro de profundidade e uma à profundidade da captação. Essas colheitas de águas devem ser misturadas em partes iguais num recipiente (balde) e tratadas com sendo uma amostra única.
Para realizar a medição das profundidades para a colheita da amostra composta, deve utilizar-se um Disco de Secchi que tem como função medir a profundidade em que é visível o Disco de Secchi na água. Desta forma, após saber a profundidade a que esteve o Disco de Secchi, deverá ser colhida uma amostra à superfície, uma à profundidade a que esteve o Disco de Secchi e, por último, uma a três vezes a profundidade a que esteve o Disco de Secchi. Porém, caso não seja possível realizar este tipo de amostra composta, deve-se efectuar a colheita de uma amostra simples à superfície e junto ao ponto de captação. Caso se observem acumulações de cianobactérias nas margens das albufeiras deve recolher-se também uma amostra concentrada da fluorescência, a fim de avaliar a sua composição e toxicidade.

Água Tratada
A colheita da amostra de água tratada deve ser colhida na torneira de purga à saída da Estação de Tratamento de Água (ETA) ou na cisterna que armazena a água tratada antes da entrada no sistema de distribuição.

Zonas Balneares Fluviais (recreativas)
Nas zonas balneares fluviais deve-se efectuar uma colheita de uma amostra simples, à superfície. O recipiente (frasco) deve colher água a cerca de 0,5 a 1 metro da margem, nos locais usados pelos banhistas ou para outras actividades balneares. Contudo, se as áreas mais afectadas pelas cianobactérias não coincidem com as zonas de banho, deve-se colher uma amostra da fluorescência no local onde esta esteja mais concentrada, para ser possível a verificação dos riscos potenciais nessa zona balnear.


Para além destes procedimentos referidos, é também efectuado, de acordo com o Boletim de Colheita de Água Superficial para Consumo Humano, Vigilância de Cianobactérias, a identificação da amostra, a observação visual/olfactiva e a verificação dos parâmetros determinados no campo. (Figura 4)

Figura 4 – Boletim de Colheita – Água Superficial para Consumo Humano – Vigilância de Cianobactérias
Continuamente, após a medição da profundidade com o Disco de Secchi e a colheita da amostra de água com a Garrafa de Van Dorn, chega a altura de analisar a temperatura da água com o Termómetro. É essencial medir o pH (medidor de pH) e verificar a turvação da água colhida (turbidímetro). Ao longo destes procedimentos será também efectuada a medição do oxigénio na água, nas várias profundidades realizadas. Posteriormente, a amostra da colheita de água será acondicionada devidamente e transportada para o laboratório para análise.
Para concluir, a água contaminada por cianobactérias deve ser tratada de forma a remover estes organismos, dando especial atenção à libertação de toxinas. Contudo, ferver a água não destrói as toxinas. Assim sendo, a melhor forma de remover as toxinas é através de filtros de carvão activado no tratamento das águas para consumo humano.


Para finalizar este tema, deixo-vos com um pequeno vídeo, que referencia as etapas realizadas, na primeira pessoa sobre esta temática. 




Referências Bibliográficas
Azevedo, S. Cianobactérias: Portaria 1469/00. Laboratório de Ecofisiologia e Toxicologia de Cianobactérias. Consultado a 19 de Dezembro de 2011 (Powerpoint)
Azevedo, S. (1998). Toxinas de Cianobactérias – Causas e Consequências para a Saúde Pública. Vol. 1 (Nº3). Medicina Online. Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais - UFRJ
Brandão, E. (2008). Cianobactérias e Saúde Pública no Brasil. Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, para obtenção do grau de Mestre em Biologia Humana e Ambiente, Departamento de Biologia Animal, Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa, Lisboa.
Cianobactérias. Consultado a 21 de Dezembro de 2011. Disponível em URL: http://www.enq.ufsc.br/labs/probio/disc_eng_bioq/trabalhos_pos2004/microorganismos/CIANOBACTERIAS.html
Direcção-Geral da Saúde. Tudo o que deve saber sobre Cianobactérias (Fevereiro, 2004). Consultado a 19 de Dezembro de 2011
Ministério da Saúde. Administração Regional de Saúde do Algarve, IP. Departamento de Saúde Pública. Procedimentos de Colheita de Amostra de Água de Cianobactérias. Consultado a 19 de Dezembro de 2011
Ministério da Saúde. Centro Regional de Saúde Pública do Algarve. Boletim de Colheita. Água Superficial para Consumo Humano. Vigilância de Cianobactérias. Consultado a  21 de Dezembro de 2011
Pereira, G., Pequito, M., & Rodrigues da Costa, P. (1999) O impacto do incremento das cianobactérias como indicador de toxicidade (G005). Faculdade de Medicina Veterinária. Universidade Técnica de Lisboa. Lisboa
SO biologia. As Cianobactérias. Consultado a 21 de Dezembro de 2011. Disponível em URL: http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Reinos/biomonera4.php
UPC – Unidade de Pesquisa em Cianobactérias. Consultado a 23 de Dezembro de 2011. Disponível em URL: http://www.cianobacterias.furg.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1&Itemid=2
Unidade de Saúde Pública de Beja. Cianobactérias em água doce. Consultado a 19 de Dezembro de 2011

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