20 janeiro, 2012

Qualidade do Ar Interior das Piscinas

Nas piscinas interiores, a qualidade do ar pode estar comprometida pela existência de compostos orgânicos halogenados, principalmente por cloraminas, bromaminas e trihalometanos. A formação destes compostos resulta da reacção entre os produtos desinfectantes utilizados na água das piscinas (cloro ou bromo) e as substâncias orgânicas de origem humana. A formação de cloraminas e bromaminas resulta da reacção entre as substâncias orgânicas azotadas (suor e urina) e os desinfectantes à base de cloro ou bromo. As concentrações dos parâmetros intervenientes nas reacções dependem da temperatura, da humidade, das condições de ventilação e ocupação das piscinas.
A qualidade do ar interior das piscinas cobertas depende da qualidade da água e dos compostos orgânicos voláteis existentes. As principais causas de introdução de contaminantes no sistema de ar/água correspondem aos reagentes usados no tratamento de água e pela sua utilização, por banhistas. A ocupação de uma piscina condiciona a qualidade da água e indirectamente a qualidade do ar, na medida em que poderão contaminar a água com suor, urina e outras secreções orgânicas, que ao reagirem com o desinfectante presente na água resultam em sub-produtos da desinfecção, nomeadamente os trihalometanos e cloraminas.
As boas práticas de higiene dos utilizadores, como a passagem obrigatória pelo lava-pés e pelo duche, antes de utilizarem as piscinas, determinam a qualidade destes equipamentos, porque alguns compostos afectam a saúde dos banhistas.
As renovações do ar e da água são os mais utilizados e sugeridos, porém, estas renovações podem revelar-se insuficientes, obrigando a encontrar outros meios para manter a qualidade do interior das piscinas cobertas. A redução na quantidade de contaminantes introduzidos é a solução mais eficaz.



Tratamento da água
O ciclo de tratamento de água engloba várias fases nomeadamente, o sistema de renovação de água, que se pretende que seja uniforme e não permita a existência de “zonas mortas”, para não permitir a proliferação das bactérias. Nas piscinas, a água deve ser introduzida pelo fundo e transbordar à superfície (sistema de hidraulicidade invertida), transbordando através da calha finlandesa, onde é necessário existir um tanque de compensação para receber o volume de água deslocado quando os banhistas entram no tanque. O tanque de compensação deve ser esvaziado e limpo com frequência para não existir nenhum problema de contaminação biológico, nomeadamente através da camada de óleo à superfície e acumulação de detritos decantados na soleira.
A água que sai da piscina e é reencaminhada para o tanque de compensação vai alimentar as bombas de recirculação. Estas bombas têm duas funções distintas, a pressurização da água em recirculação, de modo a que possa ser filtrada e daí retornar à piscina e a pressurização da água, que permite a lavagem em contra-corrente do meio de enchimento dos filtros e descolmatagem. As instalações de recirculação e tratamento de água devem estar dimensionados tal que permitam fornecer um caudal de água filtrada e desinfectada de qualidade conforme os requisitos mínimos. O caudal de recirculação mínimo terá que ser tal que permita uma recirculação do volume total de água de um tanque num período máximo de 8 horas.
No sentido de refazer o caudal de água em circulação no sistema devido a perdas e de garantir a manutenção da boa qualidade da água, deverá ser introduzido no sistema um volume mínimo de água nova ou fresca, proveniente da rede pública, com o mínimo absoluto de 2% do volume do tanque.
Os tanques deverão ser completamente esvaziados para limpezas de fundo, pelo menos, duas vezes por ano.

Segundo a Directiva CNQ 23/93 são recomendados os seguintes valores de pH e de cloro:
Cloro livre:
Entre 0,5 e 1,2 mg/L, para pH entre 6,9 e 7,4;
Entre 1,0 e 2,0 mg/L, para pH entre 7,5 e 8,0;
Cloro total (cloro livre + cloro combinado):
Teor de cloro livre + 0,5 mg/L.
De referir que o cloro combinado resulta da reacção do cloro livre adicionado à água com matéria orgânica presente na água, principalmente aminas.

No sentido de minimizar ou evitar turvação na água, poder-se-à recorrer à adição de floculante (e/ou coagulante), actuando no sentido de agregar pequenas partículas suspensas e principalmente dissolvidas de difícil remoção pelo sistema de filtração simples. Deste modo, a adição de floculante na água resulta da transformação de pequenas partículas em partículas de maiores dimensões que, consequentemente, serão mais facilmente retidas no filtro e a água apresentará maior transparência.


Manutenção da qualidade do ar
O ar novo deve ser extraído do exterior do edifício e não das garagens e armazéns do próprio edifício, para evitar a viciação do ar e a não renovação do mesmo.
As piscinas interiores devem conter equipamentos e instalações de climatização (renovação e aquecimento do ar), que permitam o cumprimento dos seguintes requisitos de conforto:
-Humidade relativa: 55 a 70%;
-Temperatura do ar: igual ou superior à da água do tanque, com um mínimo de 24 ºC;
- Caudal de ar renovado por banhista: 6 L/s;
- Velocidade de ar insuflado: 0,2 m/s.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o caudal mínimo de ar novo em piscinas cobertas, deverá indicar um valor mínimo de 10 L/s/m2 de superfície do plano de água.
De modo a garantir uma boa qualidade do ar interior das piscinas, devem ser realizadas periodicamente, a manutenção e a limpeza dos sistemas AVAC.


Sub-produtos de Desinfecção
Pretende-se com a desinfecção da água, a eliminação dos microrganismos e que esta contenha residual de desinfectante face a possíveis contaminações posteriores ao tratamento. Porém, da adição de desinfectantes poderá resultar a formação de sub-produtos de desinfecção.
Alguns estudos, tem demonstrado que alguns destes sub-produtos de desinfecção são carcinogénicos, mutagénicos, entre outros efeitos para a saúde.

Cloro e bromo
Quando são utilizados desinfectantes à base de cloro ou de bromo na água, estes originam formas químicas denominadas por cloro livre e bromo livre.
As formas livres de cloro e bromo, na presença de matéria orgânica natural ou de aminas na água, reagem originando diversos sub-produtos de desinfecção, nomeadamente trihalometanos (THM). A formação de THM é directamente proporcional ao pH da água.

As cloraminas são considerados sub-produtos de desinfecção da cloração da água, na presença de amoníaco (NH3), amónia (NH4+), suor, saliva, urina e outros compostos de origem humana. As cloraminas formadas na água, são substâncias extremamente voláteis, que se evaporam facilmente, passando para o ar ambiente. A tricloramina (NCl3) é a mais prejudicai à saúde, atingido o sistema respiratório humano e provocando reacções alérgicas no tracto respiratório superior e inferior.
Quando há presença de compostos aminados na água, as primeiras dosagens de cloro adicionadas à água reagem preferencialmente com estes compostos aminados para dar origem às cloraminas, que na realidade correspondem ao cloro combinado.

As cloraminas e bromaminas são os principais responsáveis pelo cheiro intenso a cloro que se faz sentir nesses locais e pelos sintomas de irritações nos olhos, nariz, laringe e brônquios, sentidos pelos frequentadores destes locais – efeitos a curto prazo. A longo prazo, suspeita-se que, tanto as cloraminas e bromaminas como os trihalometanos têm efeitos carcinogénicos, pelo que a sua monitorização e controlo se revelam de grande importância na salvaguarda da saúde dos utentes e dos profissionais destes estabelecimentos.

Ozono
A desinfecção com ozono, em relação ao cloro ou bromo, apresenta como vantagem, o facto de ao reagir com a matéria orgânica não formar THM, e como desvantagem, a formação de iões bromatos, que apresentam efeitos nefastos para a saúde.

Radiação UV
Para a desinfecção por radiação UV ser efectiva, não poderão existir sólidos suspensos, onde os microrganismos se podem proteger da radiação. É de referir que a radiação UV não deixa residual na água.
Na utilização da radiação UV as quantidades de sub-produtos formados, não são significativas.


Em suma, o risco resultante da exposição a sub-produtos de desinfecção, pode ser controlado e minimizado por:
- Redução da presença na água de compostos que originam a formação dos sub-produtos de desinfecção, compostos aminados e outra matéria orgânica;
- O valor de cloro livre deve ser o mais baixo possível, para garantir a eficaz desinfecção.

Referências Bibliográficas:
Conselho Nacional da Qualidade. Directiva CNQ 23/93. A qualidade das piscinas de uso público. Consultado a 17 de Janeiro de 2012.
Ministério da Saúde. Administração Regional da Saúde do Algarve, I.P. Departamento de Saúde Pública. Projecto de Vigilância da Qualidade do Ar Interior de Piscinas Cobertas. Consultado a 17 de Janeiro de 2012.
Ministério da Saúde. Direcção-Geral da Saúde. Circular Normativa n.º 14/DA, de 21 de Agosto de 2009. Programa de Vigilância Sanitária de Piscinas. Consultado a 17 de Janeiro de 2012. http://ssaude.files.wordpress.com/2010/12/cn14.pdf

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